23/10/2023
Educador físico, atleta e canoísta, Adelson Carneiro Rodrigues percorreu mais de 8 mil km a bordo de um caiaque de 5,5 m
Depois de dar 3.520.315 remadas, o paulista Adelson Carneiro Rodrigues, de 61 anos, concluiu a mais longa aventura a bordo de um caiaque pela costa brasileira. Ao todo, foram 3 anos e 38 dias de adrenalina, sufoco, encanto e aprendizado, em um projeto chamado de “Expedição do Oiapoque ao Chuí”, em referência aos municípios dos extremos Norte e Sul do Brasil.
Ao desembarcar na Barra do Chuí, sendo recebido em terra com festa e merecidos aplausos, Adelson se tornou o primeiro brasileiro a remar toda a costa navegável do país de caiaque oceânico, em um percurso de 8.082 quilômetros, conforme registrou o GPS portátil dele.
Foi preciso muita energia para superar as situações difíceis que surgiram no caminho, como navegar em mar aberto com ondulações de até sete metros de altura em alguns trechos, encarar arrebentações, ventos de 20 nós, suportar diversos dias de chuva, entre outros desafios.
E energia é o que não faltou a esse educador físico (ex-preparador de atletas) e esportista, dono de extenso currículo como canoísta e repleto de prêmios em natação, triathlon e escalada. Dores musculares, desgaste físico? Nada disso. “A minha preparação vem desde criança. Comecei a praticar esportes aos 10 anos de idade. São 51 anos participando de provas diversas, de natação, ciclismo e corrida. Já disputei 44 maratonas, além de três provas de Ironman”, explica o canoísta, que ingeriu entre 4 mil e 5 mil calorias por dia para repor as energias.
A canoagem entrou na vida desse superatleta, sedento por competições, em 2003. Desde então, passou a acalentar o sonho de “um dia” percorrer de caiaque toda a costa brasileira. Decisão finalmente tomada em 2015. A expedição começou no dia 17 de fevereiro de 2020, partindo da cidade de Oiapoque, Amapá, no extremo Norte do país.
De remada em remada, ao todo, o canoísta atravessou 17 estados, a um ritmo que variou entre quatro e oito horas de viagem por dia. Mas encarou picos de mais de dez horas, na maior perna da viagem, quando cruzou os 63 quilômetros da Lagoa Mirim em um só fôlego.
“Eu estava preparado para remar até 70 quilômetros sem pausa, em cerca de 13 horas”, garante o canoísta, que ao longo da expedição dormiu em barraca, rede e de bivaque (na natureza, sem o uso de barraca, apenas jogando um plástico por cima, a céu aberto).
Navegando nessa cadência, Adelson poderia terminar a expedição de caiaque do Oiapoque ao Chuí em muito menos tempo que os 1.135 dias que levou para concluir a expedição. A pressa, porém, não fazia parte de seu vocabulário.
“Eu parava de dois a cinco dias em algumas cidades, às vezes mais, para conhecer as pessoas, a vida dos ribeirinhos, dos caboclos, dos pescadores; a cultura local, enfim. E essa será a essência do livro que eu agora estou começando a escrever, junto com informações de natureza técnica sobre canoagem, como o mapeamento da nossa costa e a avaliação das condições ambientais de cada ponto do litoral brasileiro”, acrescenta.
O nosso litoral, segundo ele, é abençoado para a prática da canoagem. Porém, existem alguns macetes para evitar perrengues. Por exemplo: estudar bem os movimentos do mar, considerando a direção e o sentido das correntes marítimas. Se estiver no lugar errado, na hora errada, o canoísta corre o risco de ter de remar contra a corrente e, com isso, acabar andando para trás, em vez de avançar.
No desembarque, no Chuí, Adelson já anunciou sua próxima expedição: remar 4.000 quilômetros entre Chuí e Ushuaia, a gelada capital da província da Terra do Fogo, no Sul da Argentina, um lugar ao mesmo tempo belo e ameaçador.
“Eu já percorri a costa do Uruguai, analisando com meus próprios olhos todos os lugarzinhos em que poderei parar, o que é fundamental para o sucesso da missão”, explica. Ainda vamos ouvir muito falar sobre ele e seu caiaque marinheiro.